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  • Clariana Monteiro

Compostos Orgânicos Voláteis

Ainda desconhecidos por muitos, os compostos orgânicos voláteis são umas das substâncias mais tóxicas que nos cercam no dia a dia. Presentes em muitos produtos cotidianos, é necessário que haja uma atenção e conscientização redobrada sobre eles, já que muitas vezes passam imperceptíveis pela nossa vida, impactando direta e indiretamente na saúde ambiental e humana. Por isso, vamos informar sobre seu conceito, e o melhor, como eles podem ser evitados.


Pela química, compostos orgânicos voláteis são compostos que têm o carbono como base da sua composição, assim, fazem parte de um grupo de moléculas chamadas de hidrocarbonetos. Além disso, possuem alta pressão de vapor sob condições normais, a tal ponto de vaporizar significativamente e entrar na atmosfera com uma temperatura de ebulição entre 50 e 260 ºC, além de reagir fotoquimicamente, ou seja por meio da radiação ultravioleta. Ao sofrer vaporização em condições de pressão e temperatura ambientes, liberam partículas altamente voláteis prejudiciais ao meio ambiente e ao ser humano. Assim, definindo de forma bem simples podemos dizer que todo composto orgânico que evapora é um COV.

Etenos, formaldeídos, acetaldeído, toluenos, propenos, alcanos, alcenos, compostos aromáticos, aldeído e alcadienos são alguns exemplos de hidrocarbonetos. O metano, gás causador do efeito estufa, é um dos COVs mais comuns. Alguns COVs mais prejudiciais são compostos orgânicos clorados (possuem cloro) como o Cloreto de Metileno e o tricloroetileno que hoje são reconhecidos como cancerígenos, outros solventes como o Benzeno, Tolueno e Xileno são suspeitos do mesmo fato e de que podem levar à leucemia.


Se todos esses nomes difíceis parecem muito distantes da sua realidade, saiba que eles estão presentes em diversos setores, sendo que as atividades domésticas são responsáveis por 7% das emissões de COVs. Os principais produtos causadores desses

compostos são tintas, vernizes, produtos de retoque da pintura de veículos, solventes de limpeza, e componentes de combustíveis derivados de petróleo. Estão presentes também em pesticidas, roupas lavadas a seco, móveis, carpetes, cola, e marcadores permanentes. O formaldeído, por exemplo, se apresenta em centenas de componentes de escritório, inclusive madeira e compensados em mobília, estantes, divisórias e forrações de parede. Viu como estão em grande parte do dia a dia?


Eles também são produzidos naturalmente por plantas no setor agrícola (16%), pela indústrias de energia (31%) e em maior parte no setor de transporte (46%).


Os COVs estão diretamente relacionados a diversos malefícios, sejam eles ambientais quanto à saúde do ser humano. São enquadrados frequentemente em duas grandes categorias: Metano (CH4) e não-metano (NMCOVs).


Vapores de COVs que escapam, como o metano, contribuem para a poluição atmosférica e para o efeito-estufa. O metano é um gás extremamente eficiente para causar o efeito-estufa, contribuindo de maneira muito expressiva nas mudanças climáticas. Alguns COVs também reagem no ar com óxidos de nitrogênio na presença de luz solar para formar ozônio, que prolonga a vida do metano na atmosfera. O ozônio é benéfico na atmosfera superior porque absorve os raios ultravioleta (UV) que protegem os humanos, plantas e animais. Este, porém, é uma ameaça grave quando presente na atmosfera mais baixa (troposfera) causando problemas respiratórios. Além de que, em concentrações mais altas, pode danificar a terra, lençóis freáticos e colheitas.


Falando de consequências individuais, os Estados Unidos, através da Agência de Proteção Ambiental (EPA), verificou que a concentração de COVs no ar de recintos fechados é de 2 a 5 vezes maior que ao ar livre. Durante certas atividades os níveis de COVs, em recintos fechados, podem alcançar concentrações 1.000 vezes maior que no ar externo. A exposição a esse tipo de material pode causar dor de cabeça, alergia cutânea, irritação dos olhos, nariz e garganta, falta de ar, fadiga, tontura e falta de memória. Durante longos períodos de exposição, os compostos orgânicos voláteis podem causar danos ao fígado e ao sistema nervoso central.


Alguns tipos de compostos orgânicos voláteis, como o benzeno, encontrado na fumaça dos cigarros, de carros e em combustíveis, são conhecidos por causar câncer em seres humanos e responsáveis pelo aparecimento da Smog (neblina de poluição). Já o clorometano, presente em removedores e no spray aerossol, ao entrar no corpo humano, se transforma em monóxido de carbono (CO). Em uma intoxicação por CO, as hemoglobinas do nosso sangue encontram maior dificuldade em distribuir o oxigênio pelo corpo, podendo acarretar morte por asfixia.


Entre as maneiras de evitar esse problema, se encaixam legislações e ações governamentais, empresariais e hábitos individuais.


Na União Europeia é assumido que a poluição associada aos compostos orgânicos voláteis é um fator de qualidade de ambiente global e transfronteiriço, já que a emissão destes num determinado Estado-Membro pode e chega efectivamente a afetar a qualidade do ar e da água de outros Estados-Membros. Assim, faz sentido agir no plano comunitário.


Portanto, em 11 de Março de 1999 foi publicada Directiva 1999/13/CE relativa às emissões de Compostos Orgânicos Voláteis (COVs) provenientes da utilização de solventes orgânicos em certas actividades e instalações.


Esta Directiva surge como um instrumento de limitação das emissões de compostos orgânicos voláteis, incidindo nas atividades e instalações em que há utilização de solventes orgânicos. Nos termos da Directiva, são definidos limiares de consumo de solventes.


A limitação das emissões de COVs sugere a substituição dos solventes por produtos menos nocivos. A diretiva prevê também que quando não existam produtos de substituição adequados, pode-se recorrer a outras medidas económica e tecnicamente viáveis destinadas a reduzir as emissões, chamadas de fim-de-linha. Uma diretiva europeia obriga os fabricantes a limitar o uso destes compostos nas tintas e a indicar, no rótulo, a porcentagem existente na composição e o valor máximo permitido (30 gramas por litro).


Industrialmente, a substituição de solventes orgânicos é uma forma eficaz de diminuir os COVs: Estima-se que mais de 15 bilhões de quilograma de solventes orgânicos sejam usados no mundo a cada ano em áreas como indústria eletrônica, de limpeza, automotiva, química, de mineração, alimentícia e de papel. Tanto os solventes à base de hidrocarbonetos quanto halogenados contribuem como COVs para a poluição do ar, da água, e para a depleção da camada de ozônio. Assim, as descobertas de solventes com menores impactos ambientais, e o desenvolvimento de processos que não utilizem solventes, são os objetivos de muitas iniciativas no ramo da química verde. Alguns exemplos de substitutos são o dióxido de carbono (CO2) liquefeito - atrativo por sua baixa viscosidade e polaridade, e da sua habilidade de molhar, sendo capaz de dissolver muitas moléculas orgânicas pequenas, sendo que surfactantes têm sido desenvolvidos para aumentar a variedade de materiais que o CO2 pode dissolver -, e o dióxido de carbono supercrítico, como solvente na indústria eletrônica.


Em ambientes principalmente industriais ou de construções, é possível que haja uma grande concentração de COV. Assim, se faz necessário também monitorar a qualidade do ar local, para que não ocorram perigos. São garantidos a segurança de espaços confinados, como com detectores de gases. O monitoramento de áreas de risco com resíduos tóxicos perigosos e resíduos de descarte também pode ser feito através do uso de detectores específicos que permitem localizar e fiscalizar exatamente as áreas mais perigosas e expostas a altos níveis de vapores tóxicos e compostos orgânicos voláteis.


Nas últimas décadas, a indústria automobilística tem empregado várias estratégias para reduzir as emissões de NOx e COVs a partir de seus veículos. Os conversores catalíticos são a opção mais comum para o controle das emissões dos motores a gasolina, uma vez que são muito eficazes na redução das emissões tanto de monóxido de carbono (CO) quanto de hidrocarbonetos (HC) que reagem e originam os COVs.


Pela ampla existência dos COVs em produtos cotidianos, é necessário repensar o uso desses em casa, e substituir produtos que contenham esses compostos - essencialmente industriais - por outros mais naturais e até caseiros.

No uso de tintas, deve-se privilegiar a utilização das de base aquosa, pois limitam ao máximo a presença de poluentes. Essas tintas e vernizes, também chamados de “Acrílicos” (por oposição com as tintas “glicerol”), têm a água como base e não os solventes. Em estudo brasileiro de 2006 sobre COVs em tintas imobiliárias a base de solvente e água, a análise de quatro tintas resultou que as que tem solventes como base chegam a emitir 520 vezes mais COVs em relação às tintas à base de água. Conscientes desta realidade, a indústria da área das tintas e vernizes já oferece uma vasta gama de produtos de base aquosa e estão a fazer um grande esforço para substituírem os produtos mais poluentes por estes.


Evite produtos de limpeza que contenham formaldeídos, benzeno, amônia, cloro, lauriléter sulfato de sódio e água sanitária. Se for usar, compre produtos em pequenas quantidades. Por isso, leia os rótulos com atenção, e dê preferência aos produtos naturais e caseiros. É possível fazer seus próprios odorizadores de ambiente, algumas receitas podem ser feitas em casa. Além disso, fique atento com sua mobília, que são tratados com retardantes de chama, e podem emitir COVs. Fique atento na hora da compra e prefira produtos que não tenham tido contato com tais substâncias. Basta se informar com o vendedor ou com o fabricante.






 

Por: Eric Boer, Beatriz Marcondes, Caíque Bevilaqua, Clariana Monteiro, e Gabriela de Alencar - Estudantes de Técnico em Química integrado ao Ensino Médio, São Paulo. O grupo se interessa por questões socioambientais, e ao estudar sobre o assunto em uma matéria escolar, decidiram escrever em conjunto para O Clima, com objetivo de acessibilizar o conhecimento sobre COVs, através da divulgação científica.

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